O PRESBITERIANISMO EM CURITIBA
AGEMIR DE CARVALHO DIAS[1]
Introdução
O historiador da literatura brasileira Wilson Martins (1955) definiu o Paraná como sendo um Brasil diferente, em razão da forte influência estrangeira na composição da população desse estado. Curitiba, a capital dos paranaenses, se destaca no cenário brasileiro pelas soluções inovadoras em seu planejamento urbano e por seus indicadores sociais. Nesse Brasil com sotaque diferente a Igreja Presbiteriana completou 125 anos de organização. A Igreja Presbiteriana é herdeira do movimento da Reforma Protestante, seguindo a linha doutrinária proposta pelo reformador João Calvino e que chegou ao Brasil através da atuação de missionários americanos. A chegada do primeiro missionário presbiteriano no Brasil ocorreu em 1859 na cidade do rio de Janeiro.
A inserção do Presbiterianismo no Paraná remonta ao Rev. José Manoel da Conceição, ex-padre que foi o primeiro pastor presbiteriano brasileiro, em visita a sua irmã que era professora na cidade de Castro. Por volta de 1878, é mencionada a atuação de João Antunes de Morais, presbítero de Faxina, que era colportor de Bíblias e que chegou até a região de Guarapuava. O Rev. Alexander Blackford visitou o Paraná e fez uma conferência em Curitiba, onde conseguiu distribuir diversas Bíblias e Novos Testamentos. (FERREIRA, 1959)
No interior do Paraná, na região de Piraí do Sul e Tibagi, foram organizadas as duas primeiras Igrejas Presbiterianas do Estado, pela ação missionária do Rev. Roberto Lenington e dos colportores João Antunes de Morais e Antonio Pinheiro — a Igreja Presbiteriana de Fundão em 26/10/1884 e a Igreja de Presbiteriana de Tibagi em 07/12/1884. Quatro anos depois os membros dessas igrejas foram incorporados no rol das igrejas de Castro e de Curitiba. Nessa visita missionária o Rev. Lenington visitou a cidade de Guarapuava e, com o auxílio de um líder maçom, conseguiu um espaço para pregar o evangelho. Cinco anos mais tarde foi organizada a Igreja Presbiteriana de Guarapuava (17/02/1889). (FERREIRA, 1959).
[1] Prof. Dr. da Faculdade Evangélica do Paraná. Pesquisador do NUPPER. Email: agemir@terra.com.br
A opção pelo arrolamento dos membros das duas igrejas da área rural do Estado do Paraná (Fundão e Tibagi) de certa forma foge da lógica expansionista do presbiterianismo que seguiu a rota da expansão do café como foi defendido por Mendonça (1984) e Costa (1979). Neste caso a estratégia missionária optou pela inserção nos principais centros através da estratégia de organização de famílias de estrangeiros[1], polêmica com o catolicismo através de jornais e panfletos (MARTINS, 1955, SOUZA, 2012) e aliança com os setores anticlericais principalmente republicanos e maçons.
- A estratégia missionária – igreja, evangelização e educação
Após a reunião do Presbitério do Rio de Janeiro, em 1885, o Rev. Lenington e o Rev. Georges Landes fizeram uma viagem missionária ao Paraná, sendo que no final do ano o Rev. Landes fixou residência em Curitiba, fazendo ali a sua base missionária. A pregação do evangelho pelo Rev. Landes sofreu a oposição do padre João Evangelista Braga, vigário geral, que emitiu uma circular aos párocos de todo o estado e que foi publicada nos jornais, advertindo a população sobre a chegada dos pregadores protestantes. (WILSON,1955)
No ano de 1887, o Presbitério do Rio de Janeiro autorizou o Rev. Landes a dissolver as Igrejas Presbiterianas de Tibagi e Fundão e arrolar os seus membros nas Igrejas Presbiterianas de Curitiba e Castro. No dia 1º de julho de 1888 o Rev. Landes organizou a Igreja Presbiteriana de Curitiba.
De conformidade com a autorização do Presbitério do Rio de janeiro, abaixo transcrita, dissolvi, no dia 1º de julho de 1888, a igreja de Tibagi e organizei a Igreja de “Corityba”. Ao 1º de julho de 1888, na cidade de Curitiba, na sala do culto, ao meio dia, estando presentes os abaixo assinados e diversas pessoas reunidas para o culto divino, procedi de receber como membros da igreja as seguintes pessoas […]. (IGREJA PRESBITERIANA DE CURITIBA).
O Rev. Landes era um homem de sólida formação, tendo cursado teologia no seminário de Princeton e foi ordenado pastor pelo Presbitério de Huntingdon, no estado de Pennsylvania. No ano de sua ordenação, em 1880, ele se casou com Rebecca M. N. Sheeder e em 1881 transferiu-se para o Brasil para trabalhar como missionário. Trabalhou quatro anos em Botucatu, interior do Estado de São Paulo, antes de transferir-se para Curitiba. Por motivo de enfermidade de sua esposa, poucos meses depois da organização da igreja retornou aos Estados Unidos, sendo substituído pelo Rev. Modesto Perestrelo Barros de Carvalhosa, imigrante português, que pastoreou o campo até 1893. Em 1890, Landes retornou a Curitiba acompanhado do missionário Thomas Jackson Porter.
[1] Esta afirmação é possível verificar através dos sobrenomes dos primeiros membros da Igreja Presbiteriana de Curitiba como a família Cornelsen e a família Pugsley.
Em 1892, no pastorado de Carvalhosa, começou a funcionar a Escola Americana de Curitiba, sob a direção das missionárias Mary Parker Dascomb e Elmira Kuhl. As duas educadoras eram missionárias da Junta de Missões Estrangeiras da Igreja Presbiteriana do Norte dos Estados Unidos e trabalharam em Rio Claro, Botucatu, Brotas e São Paulo antes de virem para Curitiba. Tinham formação superior em pedagogia e dirigiram a Escola Americana de Curitiba por 25 anos, até 1917. Em 1935, o Rev. Luiz Lenz de Araújo César adquiriu a Escola Americana de Curitiba, e mudou o nome para Ginásio Belmiro Cesar. A Escola Americana de Curitiba se inseria dentro da estratégia missionária que defendia um projeto civilizador protestante para o Brasil. (DIAS, 2009)
Em 1893 começou a campanha para construção do templo, que foi inaugurado em 1895. O terreno havia sido adquirido em 1890. A construção se iniciou com um empréstimo do Board de Missões Estrangeiras dos EUA e contou com o esforço da igreja na campanha de construção.
A Assembleia Geral da Igreja, em 1° de fevereiro de 1897, elegeu o seu primeiro pastor: o Rev. José Maurício Higgins, que tomou posse em 1898. O Rev. Higgins atuou como professor em diversas escolas da cidade de Curitiba. O Sínodo reunido em 1900 aprovou a divisão do Presbitério de São Paulo e formou o Presbitério do Sul, compreendendo os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, sendo seus membros os Reverendos Landes, Bickerstaph, Higgins e Lenington.
Em 1903, o rev. Higgins estava em licença nos Estados Unidos e quando retornou aderiu ao movimento que formou a Igreja Presbiteriana Independente. Contudo, a Igreja Presbiteriana de Curitiba manteve-se fiel ao Sínodo, sendo que apenas a Igreja Presbiteriana de Itaqui (Campo Largo) optou pelo movimento independente. Nesta pesquisa não trataremos do desenvolvimento da Igreja Presbiteriana Independente em Curitiba e região metropolitana.
Com a saída do Rev. Higgins, a igreja foi pastoreada durante o ano de 1904 pelo Rev. Antônio André Lino da Costa. No ano seguinte, o missionário George Landes retornou ao pastorado da Igreja, auxiliado pelo missionário George Luverno Bickerstaph, que posteriormente assumiu a Igreja de Castro. Ainda pastoreou a igreja nesses primeiros anos, após o cisma Independente, o Rev. Henrique A. Vogel. Em 1909, assumiu o pastorado da igreja o Rev. Roberto Frederico Lenington, filho do missionário Roberto Lenington, e pastoreou a igreja por sete anos, até 1915.
Em 1910, quando da organização da Assembleia Geral, o Presbitério do Sul ficou ligado ao Sínodo Meridional, que era formado ainda pelos presbitérios de Minas, São Paulo, Oeste de São Paulo e Itapetininga. Em 1936, o Presbitério do Sul se desdobrou com a formação do Presbitério Norte do Paraná, que posteriormente deu lugar ao Presbitério de Londrina e Castro, enquanto que em 1956 extinguiu-se o Presbitério do Sul, com a formação dos Presbitérios de Curitiba e Florianópolis.
Nos anos de 1915 a 1922 a igreja foi pastoreada pelo Rev. José Ozias Gonçalves. Nesse período a Igreja sofreu a perda das missionárias Miss Dascomb e Miss Kuhl, que faleceram em 1917, a primeira em Curitiba e a segunda nos EUA. Em 1922, faleceu o Rev. Ozias Gonçalves, que foi substituído pelo Rev. Ricardo Mayorga. Em 1923, assumiu o pastorado da igreja o Rev. Luiz Lenz de Araújo Cesar.
O período do pastorado do Rev. Luiz Cesar (1923-1942) foi marcado por uma série de realizações e polêmicas. Defensor do estado laico, protestou juntamente com outros líderes liberais da cidade de Curitiba contra o apoio financeiro dado pelo Estado quando da implantação de dois bispados da Igreja Católica Romana[1]. Foi no seu pastorado que se iniciaram as atividades da congregação do Capão das Amoras, hoje Igreja Presbiteriana da Silva Jardim e da congregação da Bela Vista, atualmente Igreja Presbiteriana do Tarumã. Também foram iniciados trabalhos missionários no litoral do Paraná no município de Morretes (Km 32 e Rio Sagrado).
Em 1942, o Rev. Cesar afastou-se do pastorado e foi designado como pastor da igreja o Rev. Alcides Nogueira e em 1944 o Presbitério do Sul designou o rev. Parísio Geminiano Cidade para substituí-lo. O rev. Parísio Cidade era médico e foi o idealizador da Sociedade Evangélica Beneficente, mantenedora do Hospital Evangélico de Curitiba.
[1] Este episódio é narrado de forma resumida na biografia de Caetano Munhoz da Rocha Neto, disponibilizada no site da Assembleia Legislativa do Paraná, juntamente com o Rev Cesar estava também o intelectual e líder maçônico Dario Vellozo: cf <http://www.alep.pr.gov.br/os_deputados/conheca_os_deputados/perfil/80-caetano-munhoz-da-rocha>.
A organização da Sociedade Evangélica Beneficente (SEB) de Curitiba se deu no dia 25 de junho de 1943, na residência do Rev. Daniel Landes Betts. Estavam presentes João Emílio Henck, pastor da Igreja Batista, Alcides Nogueira, pastor da Igreja Presbiteriana, Jaime D. Cook, pastor da Igreja Congregacional, Dr. Parísio G. Cidade, pastor das igrejas presbiterianas em Joinville e São Francisco, A. Ben Oliver, missionário batista e Augusto Klopffleisch, presbítero da Igreja Presbiteriana de Curitiba. Nessa reunião, o Dr. Parísio Cidade propõe a criação de uma sociedade evangélica beneficente, com a finalidade da organização de um serviço médico hospitalar, com policlínica especializada, a fim de atender a comunidade evangélica e o povo em geral. (DIAS; FERREIRA , 2005, p. 132)
2. A estratégia de consolidação – Igreja e ação social
No ano de 1950 foi eleito pastor da Igreja Presbiteriana de Curitiba o Rev. Oswaldo Soeiro Emrich. Temos assim o início de uma nova etapa na vida do presbiterianismo em Curitiba. O dinâmico Rev. Oswaldo pastoreou a igreja por 25 anos como pastor titular e por mais 32 anos como pastor emérito.
Rev. Emrich foi o grande entusiasta da campanha de construção do Hospital Evangélico, maior hospital particular do Paraná. Outras obras de ação social foram o Ambulatório Evangélico de Curitiba (1951), que funcionava nas dependências da Igreja antes da construção do Hospital Evangélico, do Dispensário Timóteo (1963), do Albergue Noturno “Bom Pastor” (1965), do Lar Hermínia Scheleder (orfanato) em Santa Felicidade (1965), da Creche Educacional Miriam e da Associação de Proteção à Maternidade e à Infância do Pilarzinho (1976), do Jardim de Infância Poliana (1969) e do Núcleo Educacional Boicininga (1963). Presidiu a Sociedade Evangélica Beneficente (1961-63) e foi o primeiro capelão do Hospital Evangélico de Curitiba, onde atuou desde a sua inauguração em 1959 até 1975, quando recebeu o título de Capelão Emérito.
O trabalho social do Rev. Emrich era fortemente influenciado pela Teologia desenvolvida no Setor de Responsabilidade Social da Igreja da Confederação Evangélica do Brasil (CEB), que defendia uma igreja mais presente na realidade brasileira. (DIAS, 2009)
Era mestre em Teologia pelo Union Theological Seminary de Nova York. Grande orador, era respeitado pela sua erudição e dinamismo. Mais do que pastor da Igreja Presbiteriana, era pastor da sociedade curitibana, sempre convidado para celebrar casamentos, visitar enfermos, oficiar serviços fúnebres, participar de eventos públicos. Participou da diretoria regional da Confederação Evangélica do Brasil (CEB), da Sociedade Bíblica do Brasil e da Associação de Pastores e Obreiros Evangélicos de Curitiba (APOEC). Jubilou-se do ministério na década de noventa e faleceu em 02 de novembro de 2007, perto de completar 90 anos.
Quando do encerramento do Presbitério do Sul em 1956, com a formação do Presbitério de Curitiba, o Rev. Oswaldo foi eleito o seu primeiro presidente. Nesse período o Presbitério de Curitiba se estendia por toda a região sul do Paraná. Nove anos mais tarde, o Presbitério foi dividido e se organizou o Presbitério de Ponta Grossa, ficando o Presbitério de Curitiba na sua nova fase com os campos da Capital e do litoral do Estado.
A década de 1950 foi a da organização das primeiras igrejas nos bairros. Atuando com uma equipe de presbíteros dedicados, e de uma geração de novos pastores, a obra presbiteriana em Curitiba foi se expandindo. O trabalho no bairro do Seminário (Capão das Amoras) cresceu e se consolidou, da mesma forma o trabalho no Tarumã (Alto da Rua XV). Através do trabalho de evangelização, utilizando-se tendas, iniciou-se o trabalho na Vila Tingui. As sociedades de leigos eram ativas, principalmente a Sociedade Auxiliadora Feminina – SAF e a União de Mocidade Presbiteriana – UMP. Iniciou-se o trabalho no bairro da Vista Alegre e na cidade portuária de Paranaguá. As Igrejas da Silva Jardim, Vila Tingui e Tarumã foram organizadas em 1958, e a da Vista Alegre, em 1963.
O Presbitério, em sua nova fase, contava com as seguintes igrejas: Igreja Presbiteriana de Curitiba, Igreja Presbiteriana da Silva Jardim, Igreja Presbiteriana da Vila Tingui, Igreja Presbiteriana do Tarumã e Igreja Presbiteriana da Vista Alegre. Os pastores eram: Rev. Oswaldo Emrich, Elcias Alves de Mello, Acetides Azevedo da Silva, Wesley Emmerich Werner e Eber Fernandes Ferrer. O Presbitério contava então com 848 membros comungantes e 642 membros não comungantes.
Na década de 1960 trabalhou-se na consolidação dessas novas igrejas. A congregação de Paranaguá, iniciada no ano de 1956 inaugurou o seu templo em 1963 e foi organizada em igreja no ano de 1968. Nesse tempo as igrejas filhas já estavam atuando na multiplicação dos campos missionários. No final da década de 60 o Presbitério de Curitiba tinha ordenado cinco pastores e organizado três igrejas. No final da década de 60 havia sete igrejas e uma congregação presbiterial, seis congregações de igrejas e cinco pontos de pregação, contando com 1123 membros comungantes e 1197 membros não comungantes.
No início da década de 1970 o Presbitério estava com dois dos seus ministros em licença: Rev. Elias Abrahão completando os seus estudos nos EUA e Eber Ferrer atuando junto à União Latino-Americana de Juventude Evangélica (ULAJE). Rev. Eber trabalhou posteriormente em diversas organizações ecumênicas e de serviços internacionais, e está morando atualmente na Suíça, aposentado. O Rev. Elias Abrahão retornou ao Brasil em 1972, assumindo o pastorado efetivo da Igreja Presbiteriana de Curitiba em 1974, sendo que o Rev. Oswaldo ficou como pastor emérito.
O Presbitério de Curitiba findou os anos 1970 com nove igrejas organizadas, duas congregações presbiteriais, sete congregações de igrejas, cinco pontos de pregação, nove ministros, dois candidatos ao ministério e dois evangelistas. O número de membros comungantes era de 1539, e o de não comungantes, 1445.
As transformações ocorridas no país na década de 1980 influenciaram fortemente a Igreja Presbiteriana em Curitiba. Com a volta da eleição dos prefeitos das capitais, a cidade no seu primeiro pleito da fase democrática elegeu o deputado Roberto Requião como seu prefeito. Dois dos ministros do Presbitério compuseram o secretariado do prefeito Roberto Requião, o Rev. Agenor Dias da Silva, como secretário adjunto da Secretaria do Material e o Rev. Elias Abrahão, na Secretaria do Meio Ambiente.
Quando do primeiro mandato do governador Roberto Requião (1991-1995) o Rev. Elias Abrahão exerceu o cargo de Secretário da Educação. Em 1994 foi eleito deputado federal. No pastorado do Rev. Elias Abrahão, a Igreja Presbiteriana apresentou notável crescimento. O Rev. Elias foi presidente do Sínodo Meridional, presidente da ASSINTEC[1] (Associação Interconfessional de Educação em Curitiba) que era responsável pelo ensino religioso nas escolas públicas do Paraná e também foi presidente da SEB (Sociedade Evangélica Beneficente). Faleceu em 1996, quando estava exercendo o seu mandado de deputado federal, em um acidente de automóvel na rodovia BR-277.
Nos anos oitenta houve um despertar pelo trabalho evangelístico nos limites do Presbitério de Curitiba. Foi assinado convênio com a Igreja Reformada Holandesa, que cedeu o Rev. Hans Procee como obreiro fraterno para atuar no despertamento das igrejas para o trabalho missionário e evangelístico.
A década de 1980 terminou com o Presbitério de Curitiba contando onze igrejas organizadas, uma congregação presbiterial, dez congregações de igrejas e quatorze pontos de pregação, um rol de dezenove pastores, dois candidatos ao ministério e dois evangelistas e um total de 2267 membros comungantes e de 1899 membros não comungantes.
[1] A ASSINTEC mudou os seus estatutos nos anos 2000 e passou a se chamar Associação Inter-religiosa de Educação, tornando-se a principal instituição de diálogo inter-religioso no Estado do Paraná.
3. A estratégia da expansão – “plantar igrejas”
O Presbiterianismo de Curitiba não ficou imune ao processo de crescimento do movimento evangélico no Brasil e na América Latina. O grande crescimento das Igrejas pentecostais e neo-pentecostais estabeleceu uma nova lógica paras as igrejas evangélicas tradicionais como a Igreja Presbiteriana: crescer ou definhar.
No caso brasileiro, a situação pluralista e concorrencial consolidou-se tão-somente na segunda metade do século XX, mais de meio século depois da separação Igreja-Estado. Desde então a lógica de mercado passou a orientar as ações organizacionais, religiosas e proselitistas de vários grupos religiosos, sobretudo de certas denominações pentecostais.( MARIANO, 2003, p. 115).
Apesar de o Presbitério de Curitiba estar preocupado com o seu crescimento, não havia um planejamento estratégico. As primeiras tentativas de coordenação da expansão do presbiterianismo na cidade aconteceram sob a orientação do Rev. Hans Procee, missionário da Igreja Reformada Holandesa, com a criação da Comissão Presbiterial de Evangelização.
Em 1989 o Rev. Agemir de Carvalho Dias apresentou a proposta de um “Plano Diretor de Evangelização” visando ao estabelecimento de cinco novas igrejas na região metropolitana de Curitiba, que foi aprovado pelo Presbitério. Fazia parte do conteúdo do plano uma meta de sustentabilidade dos campos subsidiados pelo Presbitério e a preparação de evangelistas através de um instituto bíblico que foi criado no ano seguinte com o nome de Instituto Bíblico George Landes. O primeiro campo proposto pelo plano diretor foi o da cidade de Araucária, e para abrir esse trabalho foi contratado o evangelista Tércio de Sá Maynardes.
No ano de 1990 foi eleito presidente do Presbitério o Rev. Agemir de Carvalho Dias, que elaborou juntamente com o secretário executivo Rev. Wesley Emmerich Werner um novo plano mais ambicioso, o chamado “Plano de Expansão do Presbitério de Curitiba”, que propôs a formação de 30 igrejas em Curitiba e região metropolitana, com a abertura de novos trabalhos, organização em igreja das congregações existentes e estímulo à abertura de novas congregações pelas igrejas. O plano foi apresentado à Igreja Reformada Holandesa que se tornou parceira no financiamento dos novos campos. A seguir começaram a ser abertos novos trabalhos dentro da filosofia do plano e as congregações das igrejas foram transformadas em congregações presbiteriais, como preparação para a sua organização em Igrejas.
Com a organização das Igrejas Presbiterianas da Fazendinha (1991), São José dos Pinhais (1992) e Araucária (1993) o Presbitério de Curitiba começou a pensar na sua divisão, com vistas a racionalizar os esforços evangelísticos. O desdobramento ocorreu no dia 30 de novembro de 1995 quando foi organizado o Presbitério das Araucárias, que ficou com a responsabilidade dos campos ao sul de Curitiba e cidades da região metropolitana. O primeiro presidente do novo Presbitério foi o Rev. Agemir de Carvalho Dias. O Presbitério das Araucárias foi organizado com oito igrejas e quatro congregações presbiteriais, enquanto o presbitério de Curitiba prosseguiu com nove igrejas e sete congregações. Um novo desdobramento ocorreu em 1998, com a formação do Presbitério do Tarumã.
Os presbitérios organizados continuaram o processo de expansão formando novos campos. O convênio com a Igreja Reformada Holandesa expirou em 1995 e procurou-se nova parceria com a Junta de Missões Nacionais. Assim foram iniciados os campos de São Mateus do Sul pelo Presbitério das Araucárias e o de Matinhos pelo Presbitério de Curitiba.
4. A formação do Sínodo de Curitiba
A organização do Sínodo de Curitiba, em 1996, marcou um novo capítulo na história do Presbiterianismo na região sul do Brasil.
A primeira reunião do Sínodo de Curitiba ocorreu em 6 de julho de 1996, na Igreja Presbiteriana de Guarapuava. A Comissão Especial nomeada pelo Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil foi responsável pela organização do sínodo. Entre os presentes estavam os Reverendos Osvaldo Henrique Hack, João Francisco dos Anjos e Juarez Marcondes Filho, além de presbíteros como Euclides de Oliveira e Eziquiel de Lima.
Durante essa reunião inaugural, foram arrolados os presbitérios oriundos do Sínodo Meridional, a saber: Presbitério de Curitiba, Presbitério das Araucárias, Presbitério de Ponta Grossa, Presbitério de Castro e Presbitério Norte Pioneiro. O processo de eleição da Comissão Executiva do Sínodo resultou na escolha do Rev. Juarez Marcondes Filho como presidente, do Rev. Acir Alves como vice-presidente, do presbítero Dejalma Soares Marques como secretário executivo, do Rev. Agemir de Carvalho Dias como primeiro secretário, do presbítero Nadiel Pacheco Kowalski como segundo secretário e do presbítero Abimael Moura Bueno como tesoureiro.
Logo após a organização, a nova mesa diretora iniciou os trabalhos do sínodo com a nomeação dos secretários sinodais para diversas áreas como Trabalho Masculino, Trabalho Feminino, Trabalho da Mocidade, Trabalho com Adolescentes, Trabalho com a Infância, Missões e Evangelização e Estatísticas. Foi também nomeado o Tribunal de Recursos do Sínodo e a Comissão de Estudos Pastorais.
A primeira reunião ordinária do Sínodo de Curitiba ocorreu em 11 de julho de 1997, na Igreja Presbiteriana de Ibaiti. Sob a presidência do Rev. Juarez Marcondes Filho, a sessão começou com a verificação de poderes e a composição da mesa diretora. Os representantes dos presbitérios presentes apresentaram seus relatórios, os quais foram discutidos e aprovados.
Durante esta reunião, foram destacadas a importância da colaboração entre os presbitérios e a necessidade de uma estratégia clara para o crescimento e evangelização na região. A consolidação do sínodo passou pela criação de novas congregações e pelo fortalecimento das igrejas já existentes.
Em 27 de fevereiro de 1999, O sínodo de Curitiba reuniu-se extraordinariamente para aprovar a criação do Presbitério do Tarumã que foi constituído no dia 13 de março de 1999. E na sua segunda Reunião Ordinária, ocorrida em 9 de julho de 1999, na cidade de Castro, ocorreu o desdobramento do Sínodo com a formação do Sínodo Norte Pioneiro. A Comissão Organizadora nomeada pelo Supremo Concílio do novo Sínodo teve como relator o Rev. Adelino José Barros da Silva, vice-presidente do Sínodo Meridional. O Sínodo Norte Pioneiro constitui-se com os Presbitérios de Castro, Ponta Grossa e Norte Pioneiro. O Sínodo de Curitiba permaneceu com os Presbitérios de Curitiba, Araucárias e Tarumã.
O Rev. Juarez Marcondes Filho foi reeleito para o biênio 1999-2001 como Presidente do Sínodo. No ano 2000 a preocupação com a formação de pastores voltada para a região Sul do Brasil ganha impulso com a criação do Instituto Teológico Presbiteriano do Sul, com sede na cidade de Castro, e que além do Sínodo de Curitiba reuniu os Sínodos Vale do Tibagi, Norte do Paraná Sul do Brasil e o Sínodo da Igreja Reformada. O instituto Bíblico foi criado com o objetivo de formar obreiros para os campos dos referidos Sínodos.
No biênio seguinte (2001-2003) foi reeleito para um terceiro mandato o Rev. Juarez Marcondes Filho. Já no mandato seguinte (2003-2005) foi eleito para presidir o Sínodo o Rev. Gustavo Adolfo Mariano membro do Presbitério das Araucárias. No mandato do Rev. Mariano é dado o importante passo na criação da Associação Presbiteriana de Ensino e Beneficência (APRESBES) com o objetivo de ser a mantenedora da Faculdade Teológica que sucederia ao INSTITUTO BÍBLICO DO SUL (IBPS) e o Centro Presbiteriano de Estudos (CEPET), reunindo os antigos associados do IBPS, a nova Faculdade de Teologia foi denominada FATESUL (FACULDADE DE TEOLOGIA DO SUL). Após composta a APRESBES o Rev. Agemir de Carvalho Dias foi escolhido como o primeiro diretor da Faculdade e o Rev. Fernando Eneas como diretor acadêmico.
O Presbítero Rogério Donato Kampa sucedeu o Rev. Gustavo Mariano e presidiu o sínodo no mandato de 2005-2007, e foi sucedido pelo Rev. Elizeu Eduardo de Souza no mandato de 2007-2009. No mandato do Rev. Elizeu foi aprovado o desdobramento do Presbitério das Araucárias com a formação do Presbitério Parque Iguaçu,
A preocupação com o crescimento do Sínodo foi a característica principal nesse período com a proposta da formação de novos presbitérios e a aprovação de uma política de missões e evangelismo.
Por três mandatos (2009 – 2015) presidiu o Sínodo o presbítero Joao Jaime Nunes Ferreira. No seu mandato foram realizadas as comemorações dos 150 anos do Presbiterianismo no Brasil e a realização da Reunião do Supremo Concílio em Curitiba. Consolidou-se a participação mais efetiva do Sínodo na Igreja Nacional em diversas autarquias e comissões com o também a Faculdade da Teologia agora sob a direção do Rev. Francisco Creti. Nesse período o Presbítero Joao Jaime foi eleito presidente da SOCIEDADE EVANGÉLICA BENEFICENTE DE CURITIBA (SEB) mantenedora do HOSPITAL UNIVERSITÁRIO EVANGÉLICO DE CURITIBA, que passava por grande crise. Posteriormente o INSTITUTO PRESBITERIANO MACKENZIE tornou-se o proprietário do Hospital Evangélico atualmente denominado HOSPITAL UNIVERSITÁRIO EVANGÉLICO MACKENZIE (HUEM) como também da FACULDADE EVANGÉLICA DE MEDICINA DO PARANÁ (FEMPAR).
O Rev. Francisco Creti Neto sucedeu o Presbítero João Jaime como presidente do Sínodo (2015-2017). No seu mandato foi organizado o Presbitério de São José dos Pinhais, sendo um desdobramento do Presbitério Parque Iguaçu. Para o mandato seguinte foi eleito presidente do Sínodo o Rev. Elizeu Eduardo de Souza (2017-2019). Nesse biênio foram organizados o Presbitério Metropolitano Norte Curitiba, tendo sido estabelecido a sua região geográfica em área continua com 8 (oito) bairros da Cidade de Curitiba.
Para o mandato seguinte foi eleito presidente do Sínodo o Rev. Elizeu Eduardo de Souza (2017-2019). Nesse biênio foram organizados os Presbitérios Metropolitano Norte Curitiba e Graciosa a partir do desdobramento do Presbitério do Tarumã que restou extinto. O mandato enfrentou diversos desafios relacionados a grande crise pela qual passou a Sociedade Evangélica Beneficente que passou por processo de insolvência e liquidação. A crise da SEB encontrou solução parcial na compra do Hospital Evangélico pelo Instituo Presbiteriano Mackenzie. No biênio 2019-2021, foi reeleito o rev. Elizeu, que dirigiu o Sínodo no momento de maior gravidade da pandemia de COVID-19. Mesmo neste momento tão difícil que passou a sociedade brasileira o Sínodo aprovou a instituição da Casa Presbiteriana Esperança, instituição que visa o apoio a pacientes e familiares do Hospital Evangélico Mackenzie, e que foi iniciativa do Presbítero Romildo Nunes Ferreira.
O Presbítero Emmanuel Augusto de Oliveira Marcos, foi eleito para o biênio 2021-2023, e reeleito para o biênio 2023-2025. O Sínodo neste último biênio obteve a conquista de ver aprovado pelo Supremo Concílio da IPB a oficialização da Faculdade de Teologia – Fatesul como extensão do Seminário Presbiteriano do Sul em Curitiba. Também as atividades da Casa Presbiteriana Mackenzie se consolidaram e mais recentemente foi formada a Junta de Missões do Sínodo visando a uma nova fase de formação de novas igrejas na cidade de Curitiba e Região Metropolitana.
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